quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Brasileiro ignora AVC, doença que mais mata no país

Brasileiro ignora AVC, doença que mais mata no país

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RICARDO WESTIN
da Folha de S.Paulo

Os brasileiros não conhecem a doença que mais mata no país e mais deixa inválidos permanentes. Segundo um estudo publicado no início do ano na revista científica "Stroke", 90% dos brasileiros dizem não ter nenhum tipo de informação sobre o AVC (acidente vascular cerebral), o que atrapalha a prevenção e o tratamento.
Popularmente conhecido por derrame, o tipo mais comum ocorre quando coágulos entopem vasos que levam sangue à cabeça e, como conseqüência, danificam partes do cérebro responsáveis por funções do corpo como a respiração ou a locomoção.
Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 168 mil pessoas foram hospitalizadas no Brasil no ano passado em decorrência de AVCs. Dessas, perto de 30 mil morreram.
Para o estudo publicado na "Stroke", pesquisadores entrevistaram 800 pessoas de diferentes níveis sociais nas ruas de São Paulo, Salvador, Fortaleza e Ribeirão Preto. Desse grupo, só 15,6% conseguiram dizer o significado da sigla AVC e 26,5% sabiam que o médico indicado para tratar a doença é o neurologista.
Confusão
Levam ao AVC problemas como pressão alta, tabagismo, sedentarismo, obesidade, diabetes, problemas cardíacos, maus hábitos alimentares, colesterol alto e estresse. Apesar da lista, 18,5% dos entrevistados não mencionaram nem mesmo um fator de risco.
A pesquisa mostra que os brasileiros confundem o AVC com problemas do coração, nervosismo, pressão alta, epilepsia e até câncer.
Esse foi o caso do funileiro César Marcos Codognotto, 41, que, há três semanas, em Ribeirão Preto (SP), repentinamente começou a sentir-se mal.
"Começou um formigamento no lado direito do corpo. Eu não conseguia me locomover. Falei para a minha mulher: "Vamos para o hospital". Tiveram de me ajudar a sair do carro. Eu já estava travado", diz.
Eram os sintomas de um AVC, mas Codognotto não imaginava: pensou ser pressão alta ou ataque do coração.
Segundo o neurologista Octávio Marques Pontes-Neto, da USP de Ribeirão Preto, um dos autores da pesquisa, "as seqüelas e as mortes ocorrem justamente porque as pessoas chegam muito tarde ao hospital".
Dos 800 entrevistados, só um sabia que existe remédio que pode evitar as seqüelas do AVC. Tal medicamento dissolve o coágulo que entope o vaso cerebral. Para funcionar, porém, a droga deve ser dada até três horas após os primeiros sintomas.
911
Os pesquisadores perguntaram qual é o telefone de emergências médicas. Apenas 34,6% disseram corretamente os números nacionais 192 (do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu) e 193 (dos bombeiros). O restante não soube responder ou citou telefones errados, como o 911 (da polícia dos EUA).
"Até uns 20 anos atrás, o AVC estava estigmatizado como uma doença sem tratamento. Por causa disso, ficou negligenciado", diz o neurologista Rubens José Gagliardi, presidente da Associação Paulista de Neurologia e membro da Academia Brasileira de Neurologia. "Hoje sabemos como prevenir e temos como tratar. Para isso, porém, é fundamental que as pessoas conheçam a doença."

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